segunda-feira, 13 de julho de 2015

La vie



            E se tudo não passar de ilusão? E se tudo for um grande mal entendido?
            Não há razões pra continuar. Não tem porque continuar. Eu vejo a areia do tempo escorrendo pelas minhas mãos, levando todo meu futuro, me fazendo viver do passado, somente do passado. As águas presentes, guiadas ela correnteza da vida, estão evaporando. O que vai ser de mim?
            Não quero ser só mais uma nesse mundo. Quero ser diferente, fazer a diferença. Quero que todos algum dia se lembrem de mim. Mas como vou conseguir isso? A caixinha profunda de chumbo suga tudo.
            As cores estão se esvaindo, as formas estão derretendo. Não quero esse fim pra mim. Quero congelar o tempo, viver o meu mundo, a minha vida, minha nova vida. Conquistar tudo que deixei para trás, agarras tudo que perdi para nunca mais acontecer de novo. Quero tudo novo, tudo perfeito. Vou pintar de amarelo essa vida em branco que ficou pra trás. Vou jogar um balde de tinta na escuridão de meus sonhos verdadeiros mais sombrios.
            Não quero me render. Uma nova vida me espera. Novas cores, novos sons, novas sensações. O que passou ficou. O que tiver de vir virá.
            Mas será mesmo que tudo um dia virá? Será que foram esforços em vão? Sonhos roubados, juramentos sequestrados? O que será daqui pra frente?
            Espero que melhore. Espero uma nova vida, com tudo novo. Vou reconstruir. Vou ressuscitar! Uma nova borboleta surgirá para o mundo para ser esmagada pelos pés da crueldade, para ser bicada pelos pássaros da ambição, para ser triturada pelas bocas da perseguição. Uma nova borboleta surgirá para enfrentar tudo que tiver que dar errado.
            As línguas da inveja que morram do próprio veneno. As presas do ciúme que caiam em suas armadilhas. Os mucos do rancor que se degradem. Eu não preciso disso. Eu não estou me importando com isso. Mas a multidão me empurra. Uma hora vou cair, vou sucumbir às minhas fraquezas. Vou ser pisoteada. Vou ser esmagada, triturada. Mas hei de me reerguer. Sou forte, vou vencer.

quinta-feira, 9 de julho de 2015

[livro] Orgulho e Preconceito







Jane Austen, a queridinha dos romances água-com-açúcar. Nascida em Hampshire em 1775, começou a escrever “First Impressions” em 1796. O livro, concluído no ano seguinte, foi publicado (1813) com o título “Pride and Prejudice”. A história começa com a notícia de que Mr. Bingley estaria na cidade. Mrs. Bennet (mãe de Jane, Elizabeth, Mary, Kitty e Lydia) vê ali uma ótima oportunidade de casar ao menos uma de suas filhas. No baile, Mr. Bingley dança com Jane e Darcy se recusa a dançar com Elizabeth. Então aparece o sobrinho do Mr. Bennet, Mr. Collins (um clérigo). O velho Bennet não tinha nenhum filho, somente filhas, então, assim que morresse, sua herança, incluindo a casa, seria de seu sobrinho. Suas filhas poderiam continuar usufruindo da casa caso uma delas casasse com Mr. Collins. Em uma visita, o padre pede Elizabeth em casamento, mas ela recusa. Ele então, propõe casamento a Charlotte Lucas, amiga de Elizabeth, e os dois se casam. Pouco tempo depois, os militares chegam na cidade, e o soldado Wickham conta uma historinha sobre Mr. Darcy a Elizabeth. A antipatia dela pelo querido Darcy só aumenta. Enquanto isso, Darcy se apaixona por Lizzi. Enfim, chega o querido e esperado momento: Darcy se declara a Elizabeth. Após uma pequena troca de farpas, Darcy sai do cômodo. No dia seguinte, ela recebe uma carta de Darcy desmentindo todas as inverdades que ela acreditava. Os sentimentos de Elizabeth por Darcy começam a mudar, então. E Darcy, provando ser bom moço, banca o casamento de Lydia com Wickham (afinal, a moça fugiu com o soldado e não poderia ser mal-vista pela sociedade, o que atrapalharia também o casamento de suas irmãs). Bingley, que tinha saído da cidade devido a uma manobra de sua irmã, volta e reata com Jane – e casam. Um passarinho verde conta para a tia de Darcy, Catherine de Bourgh - uma senhora muito rica e fina, sobre o romance de Darcy e Lizzi. Ela então vai até a casa dos Bennet e diz para ela não se casar com o sobrinho. Elizabeth, então, diz que aceita o casamento.
            Mas afinal, o que é o orgulho e o preconceito do título? Elizabeth e Darcy revezam. Darcy, no primeiro baile, ao dizer que Lizzi é apenas “aceitável” e não-bonita-suficiente para ele, mostra o primeiro preconceito. O preconceito de Elizabeth é intensificado ao ouvir a história de Wickham. Ambos orgulhosos, mantém seus preconceitos. Darcy, porém, deixa seu orgulho ao se declarar para Elizabeth, e ela só se desfaz de seu preconceito no dia seguinte ao ler a carta escrita por ele.
            O título original do livro, “First Impressions” (Primeiras Impressões), revela algo imprescindível no romance: a primeira impressão é realmente a que fica? Até quando uma primeira impressão pode nos prejudicar? Essa questão envolve não só o casal principal, mas também a relação da Srta. Bingley com Jane Bennet.
            As interpretações deste livro vão so extremo feminista ao oposto. A começar pela frase inicial do livro: "It is a truth universally acknowledged, that a single man in possession of a good fortune, must be in want of a wife" (É uma verdade universalmente reconhecida que um homem solteiro na posse de uma boa fortuna deve estar na procura de uma esposa). Um pensamento recorrente na época (a autora Jane Austen se apaixonou por um pobre, e entretanto não pode se casar com ele, afinal “amor não mata fome”), e também nos dias de hoje (sim!). E da mesma forma que um homem rico procurava uma mulher, uma mulher pobre procurava um homem que a sustentasse. A famosa primeira frase do livro pode ser até mesmo considerada um “resumo” da obra: tudo gira em torno do casamento.
            P&P, amado por uns e nem tanto por outros não deixa de ser reconhecido pela sua importância na literatura: seu molde foi copiado e remodelado por vários autores.
            Para finalizar, um vídeo sobre o livro:


quarta-feira, 27 de maio de 2015

Poema 1

A vida está feita de escuridão
Nada sinto, nada vejo,
Todo esforço é em vão
A luz é aoenas um desejo.

Sinto um buraco crescente
Pareço um poeta doente
Que em seu akor doentio
Se afasta cada vez mais de seu destino

Um mau agouro que brotou no vazio
Parece até obra do cão.
A igreja toca o sino,
Mas a solidão é tudo que vejo.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

Lúcia

Ela acordou como todos os dias. Era só mais uma manhã, como todas as outras. Ela levantou e se arrumou, como sempre fez. Lúcia olhou no espelho, examinou as rugas, prendeu os cabelos, como fazia todas as manhãs. Uma ruguinha a mais no cantinho do olho, como era de se esperar. Os cabelos mais brancos cada vez que se examinava. Voltou para o quarto, arrumou a cama, bagunçada de um lado só. Hoje faziam 10 anos que o outro lado estava desocupado. Ele se cansou da falta de afeto, juntou as coisas e foi-se para sempre. Desde que começara a se relacionar com os rapazes foi assim: eles se cansavam. Até parecia que ela era incapaz de amar. Mas Júlio era diferente: ele acreditava que conseguiria mudar aquele coração de pedra. Até um casal de filhos eles tiveram. Ah, lindas crianças! Mas nem aquelas criaturinhas indefesas pareciam tocar o coração de Lúcia. Elas sempre foram ligadas ao pai: confidente eterno dos filhos, fazia o papel de mãe carinhosa. Júlio dava conselhos, se preocupava, arrumava a lancheira, e até pros bares chegou a ir com os filhos. Tudo pra agradá-los. Tudo pra fazê-los sentir confortáveis. Lúcia era indiferente: dava o dinheiro que os filhos precisavam pra sair, mal perguntava onde iam, com quem iam. Com os anos, Júlio foi cansando da inércia sentimental de Lúcia: cada dia mais se convencia de que seria impossível mudar aquela mulher. Cada dia mais se convencia de que aquele casamento não era, e nunca seria, o que ele sempre sonhou. Lúcia nunca amou Júlio. Lúcia nunca amou ninguém. Lúcia nunca amaria. Não acreditava no amor, da mesma forma que não conseguia senti-lo. A mulher abriu as janelas. Lembrou que o ex-marido reclamava que o sol estragaria os móveis. Ah, Júlio,  sempre se preocupando. Lúcia chegou a sentir algo, parecido com uma saudade distante, parecia até saudades de algo que nunca tinha realmente acontecido. A casa parecia tão vazia:  Júlio se mudou, e poucos dias depois, as crianças foram também. Augusto já estava casado, esperando a primeira criança. Maria ainda morava com pai. Lúcia fechou as janelas. O sol podia esperar um pouco mais pra entrar naquele quarto. Já na cozinha, Lúcia relembrou de todos os seus namoros. Era uma coleção de casos fracassados. Nem ela entendia porque. Os términos eram como os começos: repentinos. Lembrou-se das cartas, mensagens e ligações amorosas que recebia: mas nada chegou a afetá-la. Ela era sempre indiferente aos sentimentos. Alguns rapazes ela até chegava a sentir algum respeito, alguma admiração, mas nada que fosse suficiente para manter um relacionamento. Enquanto colocava o pão na torradeira, recordou o primeiro beijo. Ela tinha 13 anos, ele 27. Lúcia sempre foi mais madura que suas amigas - talvez a falta de sentimentos colaborasse para que isso acontecesse. Ela tinha curiosidade em saber como era, todas as suas amigas já tinham beijado, algumas até transado. Tudo escondido dos pais claro. Aquelas lembranças até arrancaram um esboço de sorriso. Mas aquele coração já era um caso perdido. Lúcia terminou seu café da manhã e não voltou a pensar no passado e na família até o telefone tocar. Era Maria. Júlio sofreu um acidente e morreu no hospital. Por mais que ela não sentisse nada de especial por ele, sentiu pena da filha. Pena era uma das únicas coisas que conseguia sentir. Infelizmente. Perguntou quando seria o velório e se Maria precisava de alguma ajuda. Augusto já haviacuidDado de tudo. Lúcia só precisaria ir ao velório pra manter as aparências, pra mostrar pra sociedade que ela era humana, que ela se importava com os filhos, e que aparentemente nutria algo pelo falecido. Tudo fachada. Não sentia nada por Júlio. Os filhos tinham um ao outro, nunca precisaram da mãe e não precisariam agora. Ir ao velório era uma questão de bons modos. E assim o fez.

quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

O que aconteceu

Acordo com a cabeça a mil por hora. Ainda não caiu a ficha sobre a noite passada. Olho no relógio em forma de pinguim que ele me deu de presente de aniversário. São 15h. Realmente dormi tanto assim? Minha barriga ronca de fome. Mas não vou comer agora. Preciso escrever. Foi por isso que acordei. Preciso colocar isso tudo em um pedaço de papel. Procuro a caneca e o bloco de anotações. Está tudo em seu devido lugar. Tudo. Menos eu. Estou perdida, com um peso enorme nas costas. Preciso descarregar isso. O que mesmo? Ah, sim. Noite passada. Júlio. Não, Paulo. Ou seria o Pedro? Não interessa. Era ele. Voltou. Não queria, mas voltou. Voltou para me bagunçar, re-bagunçar. Queria que fosse um sonho, mas foi real, até demais. Ainda tenho as marcas. As visíveis e as internas. Cadê as palavras?