Fim de semestre. Hora de pegar as notas... e também os trabalhos corrigidos rsrs E peguei um que há tempos queria postar aqui. Escrevi para uma atividade em sala de aula, mas ficou com cara dos textos aleatórios que escrevo =P
A atividade era utilizar o texto "Autoapresentação", escrito por Marcos Rey, para fazer a sua própria autoapresentação. E aqui está a minha:
Eu sempre fui leitora. Mesmo quando não sabia de fato ler. Eu sempre gostei de bonecas. Mesmo quando ainda não sabia preservá-las. Eu sempre achei que existia um muro entre o sonho e a realidade. Eu sempre achei que esse muro era alto demais para pular. Eu sempre achei que ficaria presa no meu universo dos livros, esse universo fictício, que transborda sonhos.
Até que a pilha de livros era alta suficiente para chegar ao topo do muro. Cheguei lá e me joguei. Caí na realidade. E só então pude ver que o outro lado do muro nada mais é do que sonhos que foram realizados. E fui concretizar meus sonhos, para pertencer à realidade. Na minha estadia em meu mundo dos livros, eu sempre fui apaixonada pelas palavras. E no mundo da realidade eu procurei uma maneira de levar essas palavras as outras pessoas. E assim decidi pelo curso de Letras. Decidi me preparar para seguir meu sonho.
Foi quando eu vi que meus sonhos podiam ser moldados, lapidados, reciclados, mastigados... Foi quando eu percebi que meu sonho do mundo dos livros nunca seria concretizado. Foi quando eu percebi que meus sonhos do outro lado do muro nunca mais seriam os mesmos. Foi quando eu percebi que eu não era mais a mesma.
Eu me vi em situações diferentes, eu me vi convivendo com pessoas que nunca imaginaria conviver.
Continuo querendo levar o conhecimento das palavras adiante, mas como levá-las de uma forma especial? Como levá-las para pessoas que não vêem a realidade da mesma maneira que eu? Como levar essas palavras para pessoas que não escutam?
Não me apresentei propriamente dito até agora. Sou escritora. Mas meus textos vão todos parar em uma gaveta. Muitos textos ainda nem foram para o papel. No meu primeiro semestre de graduação conheci uma garota surda. E fui apresentada a uma nova realidade. Quero saber mais sobre essa realidade. Quero ajudar quem nela vive.
Quer saber? Não dispenso um bom chocolate.
A atividade foi desenvolvida na aula de Metodologia de Pesquisa em Letras, com a Professora Anair.
E aqui o texto original:
Eu nunca fui criança. Quando tinha 20 meses, ouvi meu pai dizer que os
tempos eram bicudos, e isso estragou tudo. Mas me lembro do quintal
noturno em que, sentados em degraus de cimento, o velho me contava
histórias das Mil e uma noites. Era uma rua pobre com fundos
para uma rua rica. Imaginem, atrás de minha casa morava uma baronesa.
Nas noites de calor, um perfume saltava o muro plebeu do encadernador de
livros, que meu pai era. Devia ser jasmim-do- cabo, tão bom de ser
respirado, que eu o aguardava e procurava, pelo quintal, durante todo o
verão. Para mim, que já sabia das diferenças sociais, não era apenas uma
fragrância vegetal mas o cheiro das coisas e do mundo da baronesa,
separado de nós por um muro muito alto.
Acho que esse muro, separando
duas casas e dois universos, ligados apenas por um ocasional perfume de
jasmim, materializou cedo demais a realidade. Certa manhã, coloquei uma
cadeira sobre uma mesa e encaixando o pé numa saliência do muro,
arranhando as mãos, espiei - eu consegui - durante um instante e a casa
já castelo da baronesa. Meio século depois, a cena ou fotograma não se
deteriorou. O quase não visto era um gramado batidíssimo de sol, sobre o
qual uma menina loura, de poucos anos, corria atrás dum cachorrinho
branco sob a vigilância duma governanta, que gritava algum nome
terminado em i, não soube se da garota ou do cão.
Depois... depois,
nada. Nem me lembro, por que contei, Fanny, essas lembranças de baú.
Talvez fosse o perfume do jarmim-do-cabo e o gramado da baronesa., o que
vi e aspirei da infância, o que restou dela, pois em tempos bicudos as
crianças já nascem velhas. É o que deve estar acontecendo agora,
principalmente no Brasil.
Quando escrevo meus infantis é o que me
pergunto: se escrevo para o menino sobre o muro, o espião da nanhã
ensolarada, ou se para a menina loura do cenário da baronesa. A que lado
do muro estou oomo escritor e a que lado estão os outros que escrevem?
Mas
isso é uma auto-apresentação? Acho que não. Apresento-me, pois. Sou um
escritor que gosta de cachorros de raça, foxes-blues e cereja de
Martinis. Não tenho filhos porque quem escreve para crianças precisa de
silêncio em casa. Para escrever, sento e escrevo. Às vezes, porém, fico
de pé e escrevo. Sou machista romântico. Meu maior sonho era ter um
harém, cercado de eunucos, todos do PDS. Mentira que escrevo também para
adultos. Memórias de um gigolô e O enterro da cafetina escrevi para crianças do futuro. Mas não faço a cabeça delas, vendo-lhes
emoção.
Currículo?
Fui redator de arádio, publicitário, jornalista, famoso roteirista de
pornochanchadas (33), escrevi de tudo na TV, fui inclusive ghost-writer de telenovelistas consagrados, e no merchandising
vivo de marca de lenço. E sou apsentado por tempo de serviço. Mas a
máquina e a mesa ( o quarto todo, a casa toda) só vibram quando deixo de
escrever para muitos para escrever para poucos: livros.
Mais? Ah, detesto coalhada.
p.s.: sim, eu uso folhas do Pooh pra entregar atividades acadêmicas. Me julgue.
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