Não tem como falar da morte sem falar da vida. Essa foi a minha primeira lição ao começar a ler A morte de Ivan Ilitch, de Tolstói. As pessoas encaram a morte como algo que pertence somente ao outro. No caso do livro, com a morte de Ivan, já se pensava em quem assumiria seu cargo, sua esposa já pensava na herança, e seu amigo, bem, seu amigo só esperava que sua morte não o atrapalhasse no jogo e também em quais atitudes ditas formais deveria tomar no velório. Mas quem nunca presenciou um situação parecida? Uma pessoa que pensa somente no trabalho, que coloca o trabalho e a aparência social acima de tudo, até mesmo da família. Uma pessoa que não se abala com a morte de um ente próximo, se tratando de preocupar somente com seu bolso e com sua barriga redonda de cerveja. Uma pessoa que prefere fingir que "é o tal" ao invés de assumir sua verdadeira posição social.
Não adianta negar. Todos nós conhecemos pessoas assim. Até mesmo Ivan organizou seu apartamento exatamente como as pessoas que fingem ser ricas organizam.
"Na realidade, havia ali o mesmo que há em casa de todas as pessoas não muito ricas, mas que desejam parecê-lo e por isso apenas se parecem entre si (...)"
É incrível como um livro tão distante em questões territoriais e cronológicas é tão parecido com a nossa realidade.
Petersburgo, 1882.
Brasil, 2013.
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